Hoje senti falta do modo como você respira. Nunca entendi muito bem a sua respiração profunda. Não sei se é por causa do cigarro ou se tinha a ver com a situação. Não sei se era uma respiração que significava a intensidade do momento e expirava sentimento; não sei se era uma respiração de lamentação e tédio ou se era de prazer. Talvez não seja nada disso. Talvez seja apenas a sua respiração normal: culpa do cigarro. Senti saudades de quando você me abraçava e respirava com a boca junto à minha. Não soltando o ar. Respirava com o peito, com o coração.
Estou sentindo o seu cheiro. Confesso que o seu perfume não é um dos meus preferidos. Não tinha cheiro de homem e, querido, eu gosto de cheiro de homem. Não sei explicar como o seu perfume é e o mais estranho disso tudo é que posso sentí-lo agora, mas, definitivamente, não sei descrevê-lo. Sinto não só o teu cheiro. Tenho-te aqui, abraçado e respirando junto à mim.
Sinto saudades de quando passeava a minha mão nas costas tuas. Nunca entendi por que fazia aquilo, mas acho que era uma forma de dizer: "Estou aqui, vês? Sentes?". Você me via e me sorria com a mão na minha perna. Não tenho certeza, mas acho que um dia você me disse que adorava aquilo. Não sei mesmo se isso aconteceu, mas, no fundo, devia te acariciar pensando nisso. Realidade psíquica. Segundo Freud, o que importa.
No fim, acho que é isso o que importa mesmo: tua respiração, teu perfume, minha mão nas costas tuas e todas as outras lembranças. Reais ou fantasiadas, mas lembranças. Talvez só minhas, mas minhas e lembranças.
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