segunda-feira, 29 de junho de 2009

Vocação.


Às vezes me impressiono com a minha maldade.
Meu irmão está em semana de provas, sexta a minha saída foi ficar no quarto dele ensinando Química. Hoje ele perguntou se eu ainda sabia Biologia. Vi quais eram os assuntos e disse que um pouco - mas não estava nada empolgada para lembrá-los. Ele me perguntava enquanto eu escutava música, lia blogs, emails, via orkuts e afins, ou seja, respondia vagamente e com raiva. Resolvi ajudá-lo. Desliguei o computador e me liguei em proteínas, ácidos nucleicos e derivados.
Depois de algum tempo:
- A glicólise ocorro no hialoplasma.
- Tá.
- O que é hialoplasma, Lucas?
- Humm..
- Se você não souber responder isso, eu paro de te ensinar agora!
Risadas, risadas.
- Calma, calma! (risadas)
- Citoplasma, Lucas..
- Eu sabia! Você que não esperou, não vai poder parar!
(...)

- Quais são as fases da mitose?
- Ênclise...
- A ênclise do teu cu! Isso é português! Prófase, Metáfase, Anáfase e Telófase!
- Ah, mas é parecido, Alana.. (risadas)
- AAAAAAAAAAA! A prófase se divide em 5 subfases!
- É o que? (olhar desesperado!)
- HAHAHA, isso mesmo! Vamos lá, quais são!
- Meu Deus, não sei!
- Leptóteno, Zigóteno, Paquíteno, Diplóteno e Diacinese.
- HAAAAAAAAAAM? NUNCA OUVI ISSO! Minha professora não deu!
- HAHAHA, deu sim!
- Não deu!
Ele abriu o livro, realmente só falava das 4 fases sem subdivisão nenhuma.
- Aaaaaah! No meu tempo as coisas eram mais difíceis, heim, garoto!
- Você é muito má, isso sim.

Confesso que fiquei desapontada, qual é a graça de ensinar prófase sem suas 5 divisões, isso não existe! HAHAHA.
Paramos em meiose, nenhum dos dois tinha mais saco.
- Ah, deixa pra lá, foda-se.
- É, isso mesmo, foda-se!

Boa prova, meu amor. :)

Ps: minha mãe vive dizendo pra eu dar aulas particulares, sempre digo que não tenho jeito. hoje realmente me convenci, não tenho vocação alguma!

Já não se sente o mesmo.


"- Eu te traí - disse ela, sem rodeios.
- Eu te traí - disse ele também.
Julia lançou-lhe outro olhar de repugnância.
- Às vezes - disse ela - ameaçam a gente com uma coisa... com uma coisa que não se pode aguentar, não se pode nem pensar. E então a gente diz: 'Não faças isso comigo, faze com outra pessoa, faze com Fulano e Sicrano'. Mais tarde, talvez finjas que se tratava apenas de uma estratagema, mandar que o fizessem a outro, e que não era sério. Mas não é verdade. Na hora que acontece a gente fala sério. Pensa que não há outro jeito de se salvar e se dispõe a salvar-se daquele modo. A gente quer que a coisa aconteça ao outro. Não se importa que sofra. Só importa a gente. Só nós temos importância.
- Só nós temos importância - repetiu ele.
- E depois disso já não se sente o mesmo pela outra pessoa.
- Não - concordou ele -, já não se sente o mesmo."



1984 - George Orwell

domingo, 28 de junho de 2009

Coitadinha.


As pessoas inventam tantas coisas inúteis. A publicidade cria vontades. O mundo poderia ser um pouquinho mais inteligente. Que tal criações que nós realmente precisamos? Agora eu preciso de algo que me faça sair desse dia, algo que eu aperte, coma, tome, não importa, mas que me faça voltar ao início, para a minha cama e que me mantenha por lá até que o dia acabe.
Parece até que o problema é do coitado do dia, quando, na verdade, o problema todo é comigo. Adoro me fazer de vítima do universo. É tão fácil.

sábado, 27 de junho de 2009

Mariana.


Mariana tinha tirado férias. Na verdade, a vida dela é toda ao contrário: estava no turbilhão de trabalhos, tarefas, compromissos. Para qualquer um, esse era o período de atividades, mas para ela não, essa era a fuga. Só se encontrava no ócio. Nos dias sem nada a fazer, nas noites sem sono a dormir. Confesso que ela tinha se acostumado com essa falta de tempo, tanto é que a dananinha relutou em voltar, mas eu sinto saudades de você, menina, já disse e vou repetir: você é o meu elo com a vida, com o sentir. Mas nesse regresso você exagerou! Está querendo recuperar o tempo perdido e se aproveitando das minhas declarações, aposto. Não faz assim comigo, vai com calma, porque eu já estava desacostumada a viver. Não volte assim trazendo tantas coisas, porque faz tempo que não sei o que é pensar. Hoje mesmo já refleti sobre tantas coisas diferentes que só ficou uma na cabeça: está tudo errado e sempre estará! Isso tudo é culpa sua, Mariana. Vem, mas com calma, porque faz tempo que eu não aguento mais o tranco. Vem devagar ou me desfaço de vez. Ou fujo, já estou me preparando..

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Pergunta sem resposta.


Às vezes me acho tão filha da puta. Fico querendo me convencer que não, que sempre fui sincera e não tenho culpa se as pessoas não entenderam, só que talvez a sinceridade não baste. Ando vendo as coisas tão pragmaticamente e a vida não é nada prática. Sobretudo as pessoas! E eu não quero mais (?) machucar ninguém com os meus traumas. O meu subterfúgio é torná-los claro de primeira, mas dói menos quando se tem aviso prévio? Acho que não. E não quero mais que doa. Nos outros. Porque eu já não sinto faz tempo. Só não sei o que fazer.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Larissa.



No último sábado aconteceu a final do quadro "Soletrando" que ocorre anualmente no programa Caldeirão do Huck na Rede Globo. Confesso que o programa nunca me atraiu muito e acompanhei o quadro poucas vezes durante os outros anos. Dessa vez foi diferente, a representante de Pernambuco estuda no colégio onde estudava, o que causava uma identificação. A Larissa Oliveira chegou à final e mais: foi a primeira menina e nordestina (não tenho certeza disso) a vencer! É com ela, então, a minha primeira "entrevista", AUHDASHDSADIUASHD, que vergonha :x

Alana: Como você se tornou a representante do CMR?
Larissa: A partir de etapas feitas no CMR, teve um concurso interno.

Alana:
Você resolveu se candidatar por vontade própria ou houve algum tipo de indicação de professor?
Larissa: Vontade própria e INCENTIVO. Desde o lançamento do quadro eu era a fim de participar e tal.. só que achava que não tinha chance! E eu nem me imaginava na TV, mas sempre gostei de português e tal.. e isso ajudou muito também. Meu pai me incentivou a participar, já que antigamente quando eu assistia o programa, ficava brincando de soletrar junto com os participantes.

Alana: Mas ao se candidatar, realmente achou que iria chegar à final?
Larissa: Eu num tinha noção nem de que chegaria a ir pro Luciano Huck, pô! Eu nunca fiquei confiante demais, sabe? Acho que isso faz mal, mas também não pensava negativo, acho que isso também não ajuda.

Alana: Mas a partir de que momento você achou que poderia ganhar?
Larissa: Caramba, difícil te dizer, visse? Só sei que quando bruno saiu, eu pensei comigo mesma: ''EU NÃO VOU DEIXAR PEDRO GANHAR!'' É que se eu não ganhasse, eu taria torcendo por bruno, entende? Ele é inteligentíssimo! Apesar de não falar muito na frente das câmeras e tal, nos ''bastidores'' ele se soltou mais com a gente (comigo e com Pedro) e ficava contando as coisas..como era lá na rocinha, como era o Rio... muito inteligente.

Alana: Já que estamos falando dos outros participantes, você acha que realmente merecia ser a vencedora?
Larissa: Acho que nós três estávamos no mesmo nível e.. tipo.. quem sou eu pra dizer se eu mereço ou não? Só sei que eu gostei.

Alana: Depois que você começou a aparecer no programa, sentiu que mudou alguma coisa na tua vida?
Larissa: O assédio, com certeza!

Alana: Para finalizar, qual foi o teu maior prêmio? E você pretende continuar no CMR?
Larissa: LÓGICO! Só saio do cmr no 3 ano. E experiência, acho que foi nisso que eu mais ganhei.. é uma coisa que não só eu, mas acho que também os outros participantes vão levar pra vida toda :D



Agradecimentos:
Larissa, Lucas e Rhay :)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Quer uma carona?


Ultimamente eu reproduzi os depoimentos de que sou chata, mesmo sem ter exemplos muito concretos, mas hoje eu me peguei pensando: "Caramba, eu sou uma pessoa muito chata."

Vou começar a autoescola. Meu pai saiu esses dias dizendo que ia atrás, voltou para casa e dali a poucos minutos chega o intrutor na minha casa. (OOI? COMO ASSIM? JÁ?) Ficou acertado que ele me pegaria hoje na Federal para irmos marcar o exame médico e o psicotécnico. Na hora marcada, aparece o carro com um homem de chapéu de palha no volante (AUHSDAUIDHA, ok). Entro, ele começa a dirigir e o celular toca. Ele atende e continua dirigindo - que ótimo exemplo. Depois de um tempo e uma discussão, resolve parar até achar as soluções para os problemas de pagamento ou não-pagamento. Durante todo o caminho, a conversa parece ótima, pelo menos para ele. Eu sempre respondendo: aham, é, uhum, tá.. Na hora de estacionar, ele me pede "ajuda": "Será que o carro pode ficar aqui?" (OI? EU NÃO SEI DIRIGIR, ESQUECEU?). Ontem, lá em casa, o que foi dito é que os exames seriam nesse próximo sábado, mas o queridíssimo resolveu marcar para o dia 04 e não me perguntou nada. O pior foi que eu só lembrei que dia 03 é o casamento da minha tia e que eu vou para Maceió quando cheguei em casa. Fui logo despejando tudo para a minha mãe e ela começou a fazer escândalo e ligou para o meu pai. Ele brigou comigo, disse que não tenho que falar nada disso para ela - por conta do trauma dela com autoescola - e que eu tenho que falar é para ele. Falei tudo e ele disse: "tá." (NOSSA! Oo)
Não sei como as coisas vão ficar, só sei que não gostei dessa cara agitado, que faz mil coisas ao mesmo tempo e que quase fez com que eu morresse atropelada atravessando a Caxangá por entre os ônibus. Eu gosto de pessoas calmas e que falam pouco quando não me conhecem. (NÃO GOSTO DE SOCIALIZAR, AMIGO, DÁ PRA SER?)

Ah! O mais importante: no caminho ele escutava Jota Quest e soltou uma pérola: "Um dia feliz às vezes é muito raro.. que letra linda, né?" AUDHASIUDHDUIA, nessa hora eu não aguentei, ri e confirmei empolgadamente: "É, é, realmente muito bonita..." (AHAM ¬¬). Eu acho que não mereço isso, não sou tão chata assim.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Jornalistas por formação!!!


"Mendes disse que o diploma para a profissão de jornalista não garante que não haverá danos irreparáveis ou prejudicar direitos alheios.

'Quando uma noticia não é verídica ela não será evitada pela exigência de que os jornalistas frequentem um curso de formação. É diferente de um motorista que coloca em risco a coletividade. A profissão de jornalista não oferece perigo de dano à coletividade tais como medicina, engenharia, advocacia nesse sentido por não implicar tais riscos não poderia exigir um diploma para exercer a profissão. Não há razão para se acreditar que a exigência do diploma seja a forma mais adequada para evitar o exercício abusivo da profissão', disse."

Em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u582417.shtml



"Em seu voto, Gilmar Mendes sugeriu que os próprios meios de comunicação exerçam o mecanismo de controle de contratação de seus profissionais. Ele comparou ainda a profissão de jornalista com a de chefe de cozinha. 'Um excelente chefe de cozinha poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima estarmos a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área', comparou."

Em: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1198310-5598,00.html



“O relatório do ministro Gilmar Mendes é uma expressão das posições patronais e entrega às empresas de comunicação a definição do acesso à profissão de jornalista”, reagiu o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade. 'Este é um duro golpe à qualidade da informação jornalística e à organização de nossa categoria, mas nem o jornalismo nem o nosso movimento sindical vão acabar, pois temos muito a fazer em defesa do direito da sociedade à informação', complementou, informando que a executiva da FENAJ reúne-se nesta quinta-feira, às 13 horas, para traçar novas estratégias de luta.

Valci Zuculoto, diretora da FENAJ e integrante da coordenação da Campanha em Defesa do Diploma, também considerou a decisão do STF um retrocesso. 'Mas mesmo na ditadura demos mostras de resistência. Perdemos uma batalha, mas a luta pela qualidade da informação continua', disse. Ela lembra que, nas diversas atividades da campanha nas ruas as pessoas manifestavam surpresa e indignação com o questionamento da exigência do diploma para o exercício da profissão. 'A sociedade já disse, inclusive em pesquisas, que o diploma é necessário, só o STF não reconheceu isso', proclamou."

Em: http://www.fenaj.org.br/materia.php?id=2644


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Não é corporativismo. Não sou a favor da obrigatoriedade do diploma simplesmente porque eu faço jornalismo, mas sim, porque, ao contrário da posição do Ministro, acho sim que a Imprensa pode oferecer um dano ENORME à sociedade. Tenho certeza que ele nunca frequentou uma única aula do curso, porque eu posso não ter aprendido nada nesse semestre, mas sai com a certeza de que se trata do "4º poder". Inclusive dano ao coletivo pode ser muito maior do que um médico. Entendo a questão vida/morte em que o médico está envolvido, mas o jornalista lida muito mais com a sociedade, com o COLETIVO! Além do que, frequentar a faculdade não vai GARANTIR que um médico ou um engenheiro não cometa erros, mas o objetivo é justamente esse, não cometer, ter acesso às técnicas, à teoria, mas a prática é de cada um e isso não exclui a necessidade da formação. Acho que a comparação com o chefe de cozinha foi extremamente infeliz, nada contra os chefes, mas as atividades não se relacionam de maneira nenhuma. E se o argumento serve pra jornalistas, serve pra qualquer outra profissão. UHÚ, VAMOS ABOLIR TODOS OS DIPLOMAS! (?)

No mais, amanhã tem ato na UNICAP, às 09:00 em frente ao bloco A. Estarei lá!

domingo, 14 de junho de 2009

Homem invisível.


Não assisti ao filme, mas vi uma entrevista do Selton Melo - meu sonho de consumo - a respeito. De qualquer forma, não vim aqui fazer uma resenha, vim falar de mim mesma, tentar saber um pouco mais, já que pouco sei.
Já tive vários 'homens invisíveis'(UAU). Personagens que eu criava e alimentava loucamente na minha imaginação. O engraçado é que atualmente eles estão longe da pseudoperfeição da Luana Piovanni no filme. Eles são altamente problemáticos e conflituosos, mas talvez isso seja a minha autodefesa acionada - como sempre. Deve ser pra eu ir me acostumando com os reais, afinal de contas a gente só se surpreende com o que é novo. Pensando assim, eles têm dado bastante resultado. Não me surpreendo mais com nada, mas não sei realmente se isso é inteiramente bom, já que existem poucas, mas algumas surpresas positivas. De qualquer forma, para mim elas morreram.
A minha última criação, foi bem mais real do que as outras. Esse foi o grande problema! Descobri! Descobri e o pior: preferia que ele não tivesse existido, aliás, preferia não ter descoberto. Na minha realidade - real, mas inventada - ele tinha sido a salvação de uma noite marcada pra dar errado. E como todos os outros, não era perfeito, mas beirava a perfeição em um dos quesitos.
Acabei de descobrir que, na verdade, o saldo é extremamente negativo justo nesse ponto. Que pena, voltei à realidade dos meus reais.

O seu único defeito foi que eu descobri a sua existência, queridinho. Acontece, sempre.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Os estranhos do caminho.


O caminho era sempre o mesmo. Ela também. Ia vagarosamente, sentindo a música e fantasiando. O estranho? No mesmo ponto:
- Boa tarde!
Primeiro não havia resposta. A garota aproveitava o subterfúgio do fone de ouvido e fingia que não era com ela. Ele insistia. Um dia a frieza pétrea falhou e ela riu, teve que responder:
- Bom dia.. quer dizer, boa tarde!
Maldita hora em que havia se desconcentrado. A partir daquele momento, os desejos de boa tarde eram sempre recíprocos e evoluíam:
- Tudo bem?
- Tuudo, respondia ela superficialmente.
Aquele contato distante a incomodava sobremaneira. Resolveu mudar o caminho, seguir pelo outro lado da rua. O estranho acenou exageradamente, ela sorriu e deu um adeus. Percebeu que era pior. Decidiu ameninar:
- Quem sabe ele não é apenas uma pessoa simpática? Não deve doer tanto assim ter contato com as pessoas.. É! Vou retribuir a gentileza, voltarei à calçada de sempre.

No dia seguinte lá foi ela pelo caminho de sempre. Avistou o estranho, organizou o pensamento para não dar uma gargalhada e continuou: seria simpática, responderia, sorriria e não doeria nada. Eis o inesperado: a figura estranha estava parada com o braço esticado e a mão aberta - aquele velho sinal de 'pare'. Sem saber o que acontecia, a garota parou e tirou o fone - como ele também gesticulava para que ela agisse.
- Moça, a senhorita não acha que fica mais bonita sem esses óculos escuros?
Riu, dessa vez de vergonha, de surpresa, de nervosismo.
- É, bom, não sei... mas é por causa do sol!
- Ah, o sol.
Foi o tempo para se recuperar. Deu o primeiro passo.
- Tudo bem?
- Tuuudo.

No outro dia foi pelo outro lado da rua. Com óculos escuros, com o fone, a música bem alta e fingindo que procurava algo no celular. Séria. A simpatia era muito traiçoeira e, definitivamente, não era o seu forte.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Uma bebida.


- Boa noite, aqui está o carpádio..
- Não! Não precisa. Traz uma dose da bebida mais forte que você tiver, por favor?
- Gelo?
- Só uma pedra, obrigada.
(...)
- É.. que bebida é essa mesmo? Tem um gosto amargo, é tão gelada, mas queima tudo aqui dentro. Não está me fazendo bem.
- Ah, a senhora tomou uma dose de Realidade..
- Não pode ser! Como você teve a coragem de me servir isso?
- Bom, desculpe, mas a senhora pediu o drink mais forte.. foi o que eu trouxe.
- Que é forte eu realmente não posso negar.
- Desejas mais alguma coisa?
- Ilusão! Dose dupla.
- Desculpe, está em falta, mas temos várias outras coisas..
- Uma garrafa de vodka e bem rápido!
- Gelo?
- Todo o que você tiver, rápido.

sábado, 6 de junho de 2009

Animais.


Entrei em um blog hoje por acaso e li um texto que falava sobre relacionamentos, sobre as barreiras que nós criamos, coisas assim. Isso me fez pensar.
Sei que tenho obstáculos quase intransponíveis: muro alto com cerca elétrica, cacos de vidro e cães raivosos vigiando. Em momentos poucos e oportunos, resolvo desligar a eletricidade, prender os cachorros e deixar a porta encostada. Nesses momentos, aparecem alguns poucos aventureiros. Costumo até ser bem receptiva nessas horas. Ofereço café, um filme, um bom livro, uma conversa. Assim vai, sucessivamente, até que eu me lembro da luz e que os cães estão famintos. Ligo a energia, vou dar comida aos animais e é automático: lembro daquela vez em que a porta não esteve encostada, mas aberta, escancarada. Vem à memória tudo aquilo e eu resolvo guardar a ração. Os cachorros comerão carne e da boa. Foi bom te conhecer, visitante.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Salto.


Era um prédio de 50 andares e havia se mudado há pouco. Morava no primeiro e nunca saíra de lá: era mais cômodo, seguro e sua vida estava bem daquele modo. Um dia bateu a curiosidade de saber como era o último. Sua consciência insistia para que não fosse; não havia necessidade, tudo ia bem. Suas emoções, ao contrário, estimulavam-na pelo gosto do desconhecido, o inexplorado, o nunca antes visitado. Temia as consequências, mas resolveu ir e não foi sozinha, aquele amigo, o vizinho, foi essencial.
Aos poucos. Um passo de cada vez. Paradas, retrocessos, até que o topo foi alcançado. Tudo aquilo valera muito a pena; aquela era a visão mais linda do mundo, melhor do que um sonho bom. Veio, então, a vontade de voar. Aquele companheiro fiel insistia que ela conseguiria. Não que ela fosse melhor que os outros, mas, segundo ele, se ela quisesse de verdade, voaria. Eis que foi! Jogou-se do prédio de 50 andares e voou! Voou por 1 segundo, aquele no qual fechou os olhos e acreditou que voava, depois disso, foi direto ao chão e morreu.

Resta-nos saber o que a matou: o amigo ou ela que não soube desejar aquilo de todo coração, mas talvez não importe mais: ela já está morta.

-
Esse texto tem uns 2 anos. Ontem, não sei o porquê, lembrei da existência dele e resolvi colocá-lo aqui. É engraçado que ele é uma metáfora de um dos dias que eu julgava como dos piores da minha vida. Hoje eu leio e não sinto nada.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Para onde?


Ainda lembro da frase do início da minha adolescência: "Ingratidão tira afeição." Minha mãe sempre me dizia isso quase todas - das muitas - as vezes que brigávamos. Não sei se ela parou de me achar ingrata, mas faz tempo que eu não escuto. Hoje, porém, a frase veio na minha cabeça. A questão não se tratava nem de ingratidão, mas de falta de reconhecimento. Isso sugou todo o restinho de bom-humor que eu ainda possuía e me deixou com uma raiva cega. É justo nessa hora que vêm todas as minhas incertezas, tristezas e mágoas que eu escondo tanto dentro de mim. Acho isso uma grande sacanagem. Nessas horas é que sei lá quem ou o que devia tratar de esconder tudo bem escondido. Muito sem coração esse tal de sentimento.
Sempre tive onde ir nesses momentos. Houve uma época que meu refúgio era o colégio. Em outra, minha casa. Hoje eu não posso contar nem com a faculdade, nem com minha casa. Acho que acabei de descobrir o motivo desse sono excessivo que venho sentindo. É catarse.
O pior é que nem dormir eu posso, minha mãe faz questão de reclamar. Talvez ela tenha percebido que o que eu quero, na verdade, é fugir. Ela morre de medo disso, eu sei.