sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Barba Ensopada de Sangue

Alguma coisa no conjunto desse instante o comove. A cachorra aparenta estar contente e pacificada pela primeira vez desde a morte de seu pai. Dália está confiando a seus cuidados o filho que ele ainda nem conhece. Talvez seja a afobação com que ela busca fincar a bandeira na vida dele, talvez ele simplesmente queira ficar sozinho e esteja dominado agora por uma carência momentânea, talvez no fundo ele não a ature, não tem um diagnóstico preciso, mas surge uma sensação muito forte de que a relação íntima que estava nascendo entre eles começou a terminar nesse instante. Preferiria estar errado. E ao mesmo tempo há uma coerência interna reconfortante na maneira como um já afetou a vida do outro de maneira irreversível, algo de bom que já se instalou e está protegido, que deverá durar mesmo que essas manhãs se interrompam hoje mesmo.

(Daniel Galera)

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