sábado, 27 de março de 2010

Legião de lembranças.


O Renato Russo faria 50 anos hoje. 
A MTV já passou especial, o Jornal da Band já exibiu matéria, já ouvi um programa inteiro dedicado à Legião Urbana em alguma rádio e o Altas horas, mais tarde, também será uma homenagem. Depois dessa enxurrada de Legião, só consigo pensar nas músicas deles.
Ao assistir hoje, mais uma vez, ao Acústico MTV Legião Urbana, um monte de lembranças tomou conta de mim. Difusas e diversas, sem ordem cronológica, mas todas muito intensas. Nunca tinha me dado conta disso, mas posso dizer que as músicas da Legião foram trilha sonora de grande parte da minha vida; de momentos felizes e de outros incrivelmente tristes, isso me soa tão estranho. Escuto coisas tão diferentes e posso dizer que as bandas se dividem em duas categorias: para momentos felizes e para momentos tristes. Acho que Legião é a única que contempla bem os dois lados da divisão para mim.

Lembrei de quando eu fui embora de CG e antes de chegar em Recife passei, como sempre, as minhas férias em Marechal Deodoro - AL. Cai naquela cidade como que de pára-quedas e o pior: não pulei por vontade própria. Achava que não tinha nada a ver com os meus familiares e a única coisa que me unia a apenas UM deles era a Legião. Passava muito tempo cantando com o meu primo e me lembrei de uma das vezes: uma tarde na sala da casa da minha avó. O Deivid, o Lucas, a minha mãe e eu. Os quatro sentados, escutando um cd que megalomaniacamente se intitulava "As melhores da Legião" quando chegou a vez de "Faroeste Caboclo". Naquela época, saber cantar toda a Faroeste era motivo de grande orgulho. Os três, empolgadamente cantavam até que chegou a parte: "Foi quando conheceu uma menina e de todos os seus pecados ele se arrependeu. MARIA LÚCIA era uma menina linda e o coração dele pra ela o santo cristo prometeu (...)". Minha mãe que, até então, permanecia calada apontava  exageradamente para o meu primo. Minha tia, mãe dele e irmã dela, se chama Maria Lúcia; minha mãe e suas jogadas de mestra.

Saber cantar inteira uma música de 9 minutos realmente parecia uma coisa impressionante. Muitos banhos depois de teóricas educações físicas eram acompanhados de "Faroeste Caboclo". Saíamos rápido da aula, quase que correndo, para conseguir logo um banheiro e tinha que ser um do lado do outro. Logo eu que reclamo tanto hoje de inconveniência provavelmente era uma pessoa muito sem noção. Demorava um tempão no banho no colégio só pra cantar "Faroeste Caboclo" por inteiro. Eu em um box, a Eduarda no do lado e não cantávamos, gritávamos toda a música até que o banho acabava e a pessoa que esperava podia tomar seu banho e em silêncio.

Depois da fase de Faroeste Caboclo, conheci uma Legião não tão pop. Foi quando o Jardim - um amigo que estudava no segundo ano comigo - me deu um cd com um programa com toda a discografia, fotos e todas as letras da banda. Passei os 15 dias das  férias do meio do ano ouvindo esse cd sem parar. Me apaixonei por "Os barcos", "Andréa Dória", "Daniel na cova dos Leões", "Maurício" e "Acrylic on canvas". Foi uma fase tão intensa. Passei uma semana longe do meu namorado da época e achava que ia morrer. Ficava o dia todo escutando essas músicas e lembrando dele. Só agora é que percebo que essas músicas não tinham absolutamente nada a ver com ele nem conosco. Falando nas músicas e nele, escrevi, inclusive, um trecho de "Acrylic on canvas" em uma carta das algumas vezes em que eu queria terminar o namoro:
"E era sempre: 
'- Não foi por mal, eu juro que nunca quis deixar você tão triste.'
Sempre as mesmas desculpas 
E desculpas nem sempre são sinceras;
Quase nunca são."

Pensando bem, acho que essa parte tinha muito a ver com ele.

Depois veio a obra de arte para a Raíssa. Era aniversário dela e a criatividade estava de férias. A Emanuele teve, então, a idéia de fazermos um clipe. Até hoje me pergunto o porquê de ela ter pensado em "Mais do mesmo" e no motivo pelo qual nem a Âni nem eu questionamos isso. A música tem uma história, certo, mas  que não tem nada a ver com a nossa amizade. Tudo bem. Faltei o curso e fomos filmar o clipe. A música é uma conversa entre um menino branco e outro preto. A Âni passou tinta de tecido branca no rosto e a Emanuele preta - só a Âni teve alergia depois. Eu filmei. Depois de interpretações belíssimas e incríveis efeitos especiais, participei do fim: vestida de índia, deitada no chão e cheia de catchup pelo corpo enquanto o Renato Russo cantava: "Todos os índios foram mortos, mortooooos..". Morro de risada quando vejo esse clipe hoje. A Raíssa deve ter pensado, seriamente, em fazer novas amizades. E toda vez que escuto essa música não tem como não lembrar dela e da brilhante cena de "Em vez de luz, tem tiroteio no fim do túnel." Primeiro, uma mão tampou a lente da câmera deixando tudo preto, depois aparece uma parede e pedras sendo arremessadas contra ela - um tiroteio, claro, como não?

"Natália" é importante por vários motivos. É uma música não muito conhecida e incrivelmente forte, pessimista e mais: otimista. Começa: "Vamos falar de pesticidas e de tragédias radioativas. De doenças incuráveis, vamos falar de sua vida". Termina: "É preciso acreditar em um novo dia, na nossa grande geração perdida, nos meninos e meninas, nos trevos de quatro folhas". Mas eu nunca consigo esquecer que "A escuridão ainda é pior que essa luz cinza (MAS ESTAMOS VIVOS AINDA)" Caramba, não sei definir se essa música me estimula ou me deixa desesperançosa. Causa um aperto bem forte no peito, mas não sei o significado, só sei que adoro essa parte: "Mas quem sabe um dia eu escrevo uma canção pra você" e que, em muitas vezes, eu só quero "saber de algodão-doce". Fiquei muito feliz quando, em uma noite chuvosa, o Vinícius começou a cantá-la.

Poderia escrever mais linhas e linhas falando de outras músicas e momentos, mas confesso que cansei e aposto que você também. Só queria fazer uma menção honrosa, haha, ao Espiga, meu grande companheiro de Legião. Para finalizar, um trecho que não está relacionado a nenhuma lembrança específica, mas que vem à minha mente em todos os momentos desesperadores: "Estou cansado de bater e ninguém abrir". Porque desgraça pouca é bobagem e nada melhor que uma frase como essa quando já se está mal.

URBANA LEGIO OMNIA VINCIT!

Um comentário:

  1. Engraçado, Legião foi a primeira banda de verdade que eu escutei e também foi trilha sonora por uns bons anos da minha vida. Hoje em dia, eu nem dou tanta moral aos milhões de cds que eu tenho dele, mas Legiao tem um diferencial pra mim, sei lá. No dia que o Renato Russo ia fazer 50 anos eu ate peguei um cd pra ouvir, mas, sei lá, passou. A única música que ainda não passou é Natália, escutei e depois desliguei o som.
    Acho que eu não sei lidar com o meu passado.

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