terça-feira, 14 de abril de 2009
Rota 66.
" Logo depois da entrevista percebemos que os dois rapazes continuavam sendo agredidos por um grupo de PMs, junto à entrada da carceragem da delegacia. Discretamente, Renato Rodrigues coloca a câmera embaixo de seu braço esquerdo. Com a mão direita ajusta o foco. Aperta o botão que dispara a gravação um pouco antes do momento em que um PM chuta o menor ferido na barriga. Em seguida, o rapaz leva um tapa no rosto fora do ângulo de alcance da câmera, se desequilibra e volta para a posição em que estava antes. Um outro PM se aproxima do menor, enfia o dedo em seu ferimento, dá um beliscão. Avisado por um colega, o PM olha assustado em nossa direção. Recua imediatamente e consegue sair do ângulo de visão da câmera. Mas era tarde demais.
Horas mais tarde, as imagens das agressões aos dois menores foram transmitidas para todo o país pelo Jornal Nacional. E divulgadas ao mundo, meses depois, por meio de um relatório da Anistia Internacional. Vinte e quatro horas depois da denúncia, por ordem do comandante-geral da Polícia Militar, três dos PMs acusados foram expulsos da corporação. Fora as cenas de horror que presenciamos, lembrar o dia 20 de novembro de 1986 me deixa especialmente feliz ao acabar de escrever este livro.
Naquele dia, acreditamos ter evitado registrar os nomes de mais duas vítimas em nosso Banco de Dados."
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Fim do livro "Rota 66" de Caco Barcellos.
O livro é cruel do início ao fim. Há tempos eu não lia tão empolgadamente e - acho que nunca - tão revoltadamente. A sensação de impunidade toma proporções tão grandes que eu fui sentindo um vazio, um vazio... foi aí que eu me surpreendi! Com o final! O dia 20 de novembro de 1986 também me deixou especialmente feliz, não só pelos menos dois mortos pela PM, mas pela sensação de que algo - o mínimo que seja - pode ser feito. Menos dois de um total de 3846 pessoas contabilizadas por Caco como mortas pela PM em 22 anos, para muitos pode não significar nada, mas, para mim, significa muito! E é por esse muito - pouco - que eu quero lutar.
obs: ele é o cara! *_*
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Logo que entrei aqui e vi a foto dele lembrei da musiquinha do profissão repórter! E sim, ele é o cara.
ResponderExcluirÉ assim mesmo que se tem que entrar na profissão. Querendo fazer a diferença (para o bem).
ResponderExcluir=)
Cara, isso que deve ser nosso combustível
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