terça-feira, 31 de março de 2009

Mariana.


Mariana escutou que a dificuldade das depedidas está relacionada com a intensidade dos momentos vividos. Aquilo ficou em sua cabeça e, após refletir um pouco, concordou. Ainda mais que, para ela, intensidade se liga a sofrimento. Já havia pensado sobre isso antes e chegou a conclusão que preferia momentos tênues a grandes vitórias e grandes perdas. Essa preferência é um tanto quanto covarde, Mariana, mas eu consigo te entender, minha menina, suas certezas e seu coração já foram recolados tantas vezes que você tem medo que em uma dessas possíveis quedas, fique sem eles de vez. Mas é o que eu costumo te falar: certas coisas a gente não escolhe. Por enquanto você ainda consegue fazer decisões, não se preocupar com pouco, deixar a vida levar, mas você sabe que em breve chegará, de novo, aquele momento que todo o seu equilíbrio - tão querido - será posto de lado e, mais uma vez, você não se reconhecerá.
Prepare-se, prepare-se para tudo e, quando o momento chegar, junto com as suas grandes vitórias ou com as suas grandes perdas, não esqueça que ele passará, mais cedo ou mais tarde, passará e, nessa hora, despeça-se, com toda a intensidade que lhe convir. Ninguém a culpará por amar o que é seu e sofrer por isso.

domingo, 29 de março de 2009

Palavras.


"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero
há calma e frescura na superfície intacta
(...)

Chega mais parto e contempla as palavras
cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta
pobre ou terrível, que lhe deres:
Touxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito,
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmida e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo."

-
Trechos de "A procura da poesia" de Carlos Drummond de Andrade. *_*

quarta-feira, 25 de março de 2009

Eu, você e todos nós.


Eu fico pensando no quanto as pessoas são diferentes e isso às vezes me fascina, em outras me deixa bastante assustada. Hoje, antes da aula de inglês, estava conversando com algumas pessoas da minha sala no corredor, até que, não sei como, uma delas começou a desabafar a respeito da sua vontade de já largar o curso, vontade essa que não se trata principalmente de uma desilusão com o jornalismo em si, mas principalmente pela sua vontade em fazer história. É bastante precoce fazer esse tipo de julgamento com um mês de aula, aliás, talvez natural, já que muitas expectativas estão sendo quebradas. Eu mesma já pensei e já despensei também :).
Com relação a ela, largará, tenho certeza apesar de conhecê-la pouquíssimo, mas o discurso de meia hora deixou tudo evidente, alguém até brincou: "é melhor você nem assistir a essa aula de francês, vá para casa, largue o curso agora!" ASHDUHASDHSA, exagero. Mas eu falei tudo isso pra dizer que ela afirmou que se largasse, no último dia do período, iria na frente da sala se explicar e pedir desculpas perante a turma. Isso me fez refletir bastante: EU JAMAIS FARIA ISSO!* Por uma série de motivos que não vem ao caso enumerá-los e que talvez nem eu saiba bem quais são, assim como ela tem os seus para pensar em tomar essa atitude e é justamente em coisas desse tipo que eu me pego pensando: por que será que eu ajo assim? Aí me vem um monte de idéias desconexas e que talvez não façam o menor sentido e, mais do que isso: como eu seria, então, se determinada coisa não tivesse acontecido? Passo horas com essas "teorias" loucas e acho que por isso que me interesso bastante por sociologia e psicologia.
Falando em psicologia, volta e meia eu me lembro de quando era pequena e meu pai dizia: "você pode fazer o que você quiser, Alana, só não seja psicóloga." Acho que pelo menos 50 por cento do meu interesse pelo assunto vem desde esse dia, HAHAHA, a mente é uma coisa muito louca. Enfim, vou passar o resto da noite pensando em situações, atitudes e pessoas e, no fim das contas, vou continuar sem entender nada, paciência..


* Que fique bem claro: isso não é uma crítica a ela de maneira nenhuma, é só uma reflexão a partir desse fato.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Mariana.


Mariana desaprendeu algumas lições.
Para certas coisas na vida, não existem soluções, ou pelo menos que dependam de você. Se é assim, Mariana, por que você não esquece? Há tanto com o que se preocupar, coisas que, essas sim, dependem de atitudes suas. Acorda pra Jesus, gata! Drummond estava errado: o mundo não parou nem foi o automóvel. Não deixe que sua vida pare, o tempo não espera, nada espera, não se iluda, ninguém vai te esperar, ninguém! O máximo que pode acontecer é que, enquanto você tentava atravessar a rua, o cadarço do tênis dele desamarrou, vocês se encontram e você, bobinha, pensa que ele estava te esperando. Ele, esperto, não nega. Mas não se iluda, ele não te esperava nem nunca vai esperar. Não procure sinais, pistas, nem entrelinhas. Se as coisas precisarem ser ditas, elas serão, claramente, o resto é tudo coisa da sua cabeça e você é muito bobinha, Mariana, disso você não pode esquecer, eu não vou deixar!

Bocejar.


Eu vim aqui não sei dizer o que, só que estava precisando. Eu ando conversado tanto sozinha que agora me sinto vazia, sem nada a dizer.
Ah! Essa semana parei para pensar no quanto eu mudei e no quanto eu me contradizo: todas as coisas que eu digo que nunca vou fazer, eu faço, parece até graça. A vida me dá esses tapas na cara, de vez em quando, pra ver se eu acordo; acho que estou acordando. Estou naqueles "só mais 5 minutinhos", mas acho que é melhor assim pra ter um dia bom. Melhor que acordar às pressas e passar o resto do dia mal-humorada. É, essa lição eu aprendi: ria da sua desgraça, não deixe que os outros riam de você.

domingo, 8 de março de 2009

O que é isso, companheiro?


Meu corpo por vezes transigia. Era preciso um despertador bem forte, para nos colocar fora da cama às cinco e meia. As noites eram passadas em discussões, leituras, às vezes em pura vagabundagem amorosa. Todos os dias, o despertador tocava à mesma hora, nem sempre o corpo se movia. Problema ideológico, dizia o assistente. Era o termo que se usava e creio que se usa ainda para analisar nossas fraquezas.
Começavam bem cedinho com aquela expressão "problema ideológico" os debates, mais ou menos monotemáticos, que fomos desenvolvendo, quase que ao longo de toda militância comum. Dorme cedo, companheiro; o carnaval é um dia como os outros, companheiro; não leia os escritores decandentes, companheiro. É verdade que aborrecia um pouco, mas sempre dentro de um clima de respeito mútuo.
Aquela geração de jovens políticos tinha uns dez anos menos que eu. Minha revolta se curtiu no triângulo familiar, nas lutas para ter os amigos que quisesse, escolher a carreira que me parecesse melhor, chegar em casa mais tarde. Eles se chocam na adolescência com um problema inédito para nós: a ditadura militar. Nos tempos de secundarista, combatíamos uma política educacional elitista, mas num quadro de um governo democrático.
Essas diferenças foram pesando muito nas formações que se defrontavam ali, diante de uma atividade comum. Para eles, tudo era política partidária. Alguns não tinham tido nem sua primeira namoradinha e já estavam inscritos numa organização. Lembro-me de Dominguinho, o mais doce e inteligente de todos, que vinha com sua sacolinha de plático, às vezes com um revólver calibre 38, às vezes um conjunto de documentos sobre o foco guerrilheiro.
- Dominguinho, por que é que você não compra um álbum e não vai colecionar figurinhas? Por que você não arranja uma namoradinha e vai acariciá-la num banco de jardim?
- O que é isso, companheiro?
(...) Daí as apreensões: eu tinha medo que, de um lado, ficassem aqueles que entendem de pessoas, e do outro aqueles que entendem de política partidária.

-
trecho do livro "O que é isso, companheiro?" de Fernando Gabeira.
As reflexões ainda estão na minha mente; nas nossas, eu acho. O livro é muito bom.

sábado, 7 de março de 2009

Mariana.


Mariana esperava. Distrai-se, mas esperava. A cada tocar de telefone, a cada abertura de portão, a cada voz que ouvia, seu esperar era desestimulado e ia ficando cada vez mais impaciente: "Será possível? Não, não será..." Sim, era! Iria embora do mesmo jeito que chegou: sem dar sinal de vida. A propósito, será mesmo que existia?
Eram tantas perguntas que não lhe saíam do pensamento e ficavam ali, voando sem nenhuma resposta. Perguntas sem respostas fora uma constante do seu relacionamento, ela já devia estar acostumada, mas não, com certas coisas nunca ninguém se acostuma. Uma delas é a partida. Por mais que sua vida fosse cheia de despedidas, não havia como tornar a situação cômoda; seria esse o motivo? Evitar sofrimento. Sofrimento para quem?
Mariana continua lá, esperando: o telefone, o portão, a voz... mas nem eles dão mais sinal de vida. Existe vida? Ela espera: espera as respostas. Não só. Mas talvez elas nunca cheguem, assim como todo o resto. Aquilo que nunca vem, nem nunca virá.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Data magna.

Hoje é feriado em Recife desde o ano passado, quando houve uma votação para que fosse escolhida a data Magna do Estado. Agora eu me pergunto: qual a importância de haver uma "data magna para o Estado"? Parece que é apenas a criação de mais um feriado. Se o fato fosse considerado realmente importante, não precisaria haver votação para ser escolhida entre todas as datas importantes, a mais importante para ser considerada feriado. Mais do que isso: quantas pessoas realmente sabem o porquê de ser feriado? Quantas sabem o que aconteceu em 06 de março de 1817? Quantas sabem o que foi a Revolução de 1817? Quantas sabem que o termo Revolução é considerado, por muitos estudiosos, equivocado para o movimento? Quantas sabem das influências da Revolução Francesa e do Iluminismo, do caráter elitista, da participação dos padres, da grande seca de 1816/1817 que acabou dificultando a situação dos senhores de engenho, da volta da concorrência haitiana e antilhana com açúcar de beterraba, da crise algodoeira com o fim da guerra de Independência dos EUA que voltam a produzir algodão, dos gastos excessivos da corte no Rio, dos aumentos de impostos...? Quantos sabem?
É, uma "revolução" que se deu porque os ricos se sentiam prejudicados com a crise econômica e sentiram que com uma república não estariam subjulgados à corte portuguesa e poderiam obter grandes lucros novamente, tudo isso mascarado sobre os bonitos ideiais de: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Mas e os escravos? Ah! Isso era assunto pro futuro, quando a república já estivesse plantada e consolidada... AHAM ¬¬.
Não, mas o movimento foi importante porque proclamou a nossa primeira independência. Estivemos livres de Portugal pela primeira vez, estabelecemos um Governo durante 75 dias, criamos uma bandeira, éramos chamados por "vós"... Nossa, realmente, quanta coisa importante Oo e para a população em si, o que isso significou? O que mudou ao poder dizer que era patriota? É isso que me interessa, não criar uma bandeira.
É a bandeira dessa "revolução" que representa o Estado até hoje, é por isso que é feriado e haverá um show no Marco Zero com o Alceu Valença!
Não entendeu a relação? Nem eu.

terça-feira, 3 de março de 2009

Recife.


Recife nunca foi uma cidade generosa comigo (e acho que nunca será).

domingo, 1 de março de 2009

O meu sonho de água.


Desde ontem que chove bastante e eu adoro chuva.

Acho fascinante toda aquela água caindo do céu, do nada, vindo pra terra, pro nada. Não adianta me explicarem o ciclo hidrológico, as nuvens, para mim continua sendo incompreensível e mágico toda a água ficar em nossas cabeças e só cair quando quer. De repente, parar, secar e o sol aparecer, isso é lindo! Fora isso, há todas as minhas lembranças:

Deve ser desde o tempo que era só começar a chuviscar que eu pegava a bicicleta e voltava pra casa toda cheia de lama.

É por causa do dia na Lê que chovia tão forte, trocamos de roupa e ficamos correndo na chuva e rindo, foi quando a Thalita chegou e tivemos a brilhante idéia de lavarmos a garagem ¬¬, no fim das contas ela ficou lá, molhada e nós nos atrasamos para o aniversário do Ennes.

É agora, pela chuva gelada na praia, pela calça jeans, pelo meu cabelo, pelo navio que desapareceu na neblina e pela brilhante idéia do Vinícius de irmos nos abrigar embaixo de um coqueiro.

É por alguém ter me dito alguma vez que a chuva lava a alma e, volta e meia, eu saio para lavá-la.