quarta-feira, 13 de maio de 2009

Tempo de delicadeza.


"Sei que as pessoas estão pulando na jugular umas das outras.
Sei que viver está cada vez mais dificultoso.
Mas talvez por isto mesmo ou, talvez devido a esse maio azulzinho, a esse outono fora e dentro de mim, o fato é que o tema da delicadeza começou a se infiltrar, digamos, delicadamente nessa crônica, varando os tiroteios, os sequestros, as palavras ásperas e os gestos grosseiros que ocorrem nas esquinas da televisão e do cinema com a vida. (...)
Sei o que vão dizer: a burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados.
- E eu não sei?
Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados."

(Trecho da crônica "Tempo de delicadeza" de Affonso Romano de Sant'Anna.)
-

Eu comprei esse livro em março para dar para uma amiga. Era aniversário dela, ela adora livros, eu adoro receber, então imaginei que seria um bom presente. Fiquei muito em dúvida entre umas poesias do Bandeira e esse livro de crônicas do Affonso Romano de Sant'Anna. Não conhecia a sua habilidade como cronista, apenas como poeta, e fiquei um pouco receosa de dar o livro sem saber muito bem do que se tratava. Foi quando eu li esse trecho da crônica que dá nome à obra. Não tive dúvidas, seria esse o presente. Eu estava numa fase muito sublime e ela um pouco desesperada e inconformada com as coisas na vida dela. Mas quando a gente precisa conquistar um objetivo - um difícil objetivo - não pode haver tempo para aspereza, para indignação. É a velha história do "foco". Eu, em contrapartida, sentia a delicadeza transbordando de mim e queria que ela sentisse isso, que o poder da literatura abrisse seus olhos, seu coração, lavasse sua alma.
Dei, mas logo disse que queria emprestado.
Hoje acabo de ler. Termino e reflito em como a minha "delicadeza" se foi. Não tem delicadeza, não tem aspereza e olha que ainda é o maio azulzinho ao qual ele se refere. Vou ver se acordo cedo para ver esse azul. O meu maio tem um cinza, um cinza que só não é pior do que a escuridão que Renato Russo falava. Mas estamos vivos ainda (não esquecer).

3 comentários:

  1. 'Mas quando a gente precisa conquistar um objetivo - um difícil objetivo - não pode haver tempo para aspereza, para indignação. É a velha história do "foco".'

    Será que eu estou errada? reclamo tanto,sempre estou indignada e no limite da aspereza interna.
    as vezes,eu fico pensando: será que eu tô reclamando de barriga cheia?
    sei la,mais uma dúvida pra minha cabeça que só tem interrogações e um único ponto final
    "Você tem dúvidas."(ponto)
    é mané.

    ;*

    ResponderExcluir
  2. "a escuridão ainda é pior que essa luz cinza"
    ...
    eu fico pensando que esse discurso é tão... sei lá. é como dizer "se conforme, tem coisa pior por aí". e daí? então a minha dor não é válida? então eu tenho q pagar de forte?
    tem outra música de legião que fala assim: "nossa vida não é boa, e nem podemos reclamar". é, acho q isso resume o que eu queria dizer.

    e, aborzinho, vc continua delicada. fato.
    ma snão é aquele conceito senso comum de delicada, tipo fresquinha frágil. é delicada mais lindamente. tipo cuidadosa. vc sempre foi. e é.

    depois a gente conversa sobre a minha poesia do post. quero perguntar o que tu achasse e explicar as partezinhas que tu não entendesse bem. quero voltar aos tempos de miguxa. hehe

    ResponderExcluir
  3. fico feliiiz de saber que você tentou me passar as coisas sublimes que permeaVAM sua vida. enfim, o título até que instigou a tentar trazer um pouco de delicadeza a minha vida.
    de fato a literatura tem trazido bons ares para o meu dia a dia. ela que deixa minhas manhãs com o tal azulzinho pelo menos em miragem!
    você é uma delicada, SIM! :)

    e eu quero minha dedicatória! uhsausauasuhsauhas

    ResponderExcluir