quinta-feira, 28 de maio de 2009

Tristes corpos (docentes e discentes).


É claro que, num tempo em que os empregos mínguam, um considerável desânimo se instala nos cursos de jornalismo contaminando professores, funcionários e alunos. Há exceções, como sempre há, mas o desalento dá o tom geral. É explicável, é compreensível, mas é triste.
Adolescentes que chegam aos bancos do ensino superior movidos por seus sonhos puros e grandiosos encontram verdadeiros paredões de pessimismo e acidez. A marteladas, são forçados a se convencer de que o jornalismo não melhora o mundo, não muda a vida, não traz realização pessoal: é meramente uma ferramenta nas mãos das "elites" perversas que se dedicam sem descanso a dominar corações e mentes. O jornalismo seria a arte de tecer mentiras a favor da "classe dominante". Em pouco tempo, esses meninos são intimados a se envergonhar, a se arrepender de suas aspirações de criança e, sem perceber, passam a carregar a cruz ressentida das gerações que lhes deveriam servir de inspiração e encorajamento. Em alguns casos, as salas de aula se converteram em câmaras de triturar esperanças e utopias pessoais. Muitas vezes, ensinam a criticar (muito mal e precariamente) a imprensa, mas não estimulam (nem ensinam) a fazer imprensa. É uma pena.
É com dor que escrevo estas linhas, mas, como professor que sou, devo fazer aqui o registro. Tenho uma coleção de alegrias inesquecíveis no exercício da minha profissão e tenho, também, dentro da sala de aula, momentos de imensa alegria. Para mim, o sentido mais profundo de ser professor está na chance de participar da evolução do aluno em direção à sua própria vocação. Ser professor é procurar enxergar no aluno a força interior que o instiga, o que o leva adiante, o que o faz acreditar que vale a pena viver da palavra, da notícia, da informação, do contato com tanta gente, gente com histórias tão surpreendentes. O aluno é a razão de ser do professor. O resto não importa. Respeitar o aluno – sua história, seu modo de encarar o futuro – é tudo. O aluno não pertence ao professor. Antes, o contrário.
Infelizmente, temos visto turmas e mais turmas feridas pelas "desilusões perdidas", desilusões dos outros, em ambientes que não cultivam o orgulho próprio, que não cultivam a confiança na enorme diferença que uma história bem contada pode fazer no destino de uma pessoa, de uma comunidade, de um país. O jornalismo, muito mais do que o samba, é um privilégio. Por maiores que sejam as crises. É isso o que deveria ser ensinado nas escolas de jornalismo, nosso colégio. Mas não é. Olho em volta e, exceções à parte, não vejo altivez, não vejo convites ao talento, não vejo vibração.


Por Eugênio Bucci.

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agora eu lembrei do "quem sou eu" do meu orkut: sempre certa na contramão.
sempre certa eu já não sei; na contramão, com certeza.
esse texto tocou tanto que fez até doer.

3 comentários:

  1. É, imagino como os aspirantes à jornalistas se sentem com isso. Ainda bem que eu ainda não tive essas tristeas, não em relação ao campo de trabalho!
    ^^

    Sorte e coragem!

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  2. "Há exceções, como sempre há..." E TU É UMA DELAS, BOBONA! tenho certeza disso!

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  3. AMIGA, VER MEU BLOG! ME AJUDA A DIVULGAR! É URGENTE E VE SE TU PODE AJUDAR DOANDO TAMBÉM! POR FAVOR!

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